Em meio às esquinas e fachadas da Cidade Alta, ainda ecoam lembranças de cartazes chamativos, luzes de projetores e sessões de cinema concorridas. É nesse cenário de histórias e nostalgia que o jornalista e escritor Alexis Peixoto mergulha no livro “Filme de Bairro – Cinemas, cineclubes e cinéfilos na Cidade Alta natalense” (Caravela Selo Cultural), que será lançado dia 11 (quarta), às 10h30, na Cooperativa Cultural Universitária, UFRN.
A obra é resultado de um ano e meio de pesquisas e entrevistas, uma extensa “reportagem em livro” na qual o autor procurou resgatar a trajetória dos primeiros cinemas de rua do bairro, passando pelas videolocadoras e pelos cineclubes, até as ações atuais de preservação de memória. O material combina pesquisa em documentos e jornais de época, com entrevistas e fotografias.
A própria relação afetiva de Alexis com a Cidade Alta foi uma motivação e serviu de base para esse trabalho. “Frequento a Cidade Alta desde que me conheço por gente, bato ponto nos sebos do bairro mensalmente, e foi no Cine Nordeste que eu peguei minha primeira sessão de cinema, o ‘Batman’ de Tim Burton em 1989”, lembra.
A partir de conversas sobre os finados cinemas da Cidade Alta com o editor José Correia Torres Neto, ele resolveu explorar, de forma mais ampla, a relação do desenvolvimento do bairro com a cultura cinematográfica, indo além dos históricos cinemas já fechados, e abordando outros espaços e iniciativas.
Memórias cinematográficas
Durante pesquisa, muitas histórias interessantes foram resgatadas. Ele cita os filmes experimentais e os bastidores das sessões do projeto “Cinema de Arte”, que a primeira turma do Cineclube Tirol produziu durante os anos 1960. As saudosas locadoras de vídeo também renderam boas histórias, como a da Canal Um, a primeira locadora da Cidade Alta, que existe até hoje, embora com foco em equipamentos de áudio e vídeo.
Outro momento especial do livro é o capítulo dedicado à Inácio Magalhães de Sena. “Conto sobre os bastidores do filme ‘Seo Inácio ou o Cinema do Imaginário’, que documenta um pouco da rotina dele que, além de frequentador assíduo da Cidade Alta e cliente VIP da 7ª Arte, foi um dos cinéfilos mais icônicos de Natal. Hoje está eternizado nesse filme, que correu vários festivais Brasil afora”, explica.
Alexis ressalta que, além de resgatar o passado, o objetivo do livro-reportagem também é registrar o tempo presente do bairro. Para ele, o papel da memória para a revalorização dos espaços abandonados do centro é fundamental. “Mais do que resgatar a memória, precisamos entender e pensar a história cultural desses espaços como algo vivo, que ainda não terminou”, diz.
No livro, o autor descreve o estado atual dos prédios onde existiram os cinemas de rua, exatamente para provocar uma reflexão sobre isso. “Só com esse entendimento a gente vai conseguir cobrar do poder público melhorias que sejam realmente sustentáveis e aproveitem o potencial de espaços como a Cidade Alta e a Ribeira como catalisadores de novas histórias, encontros, criações”, afirma.
“Filme de Bairro” pode ser incorporado a outros trabalhos que também procuram preservar a memória da relação do centro histórico natalense com o cinema, caso do projeto “Aqui já existiu um cinema”, e o trabalho do pesquisador e cineclubista Nelson Marques.
Na ocasião do lançamento, o autor vai participar de um bate-papo com o cineclubista, pesquisador e produtor cultural Nelson Marques, que assina o prefácio do livro, e também com o arquiteto e urbanista Jota Clewton, autor da ilustração de capa do livro, que retrata o Cine Nordeste. A mediação ficará por conta do jornalista Tácito Costa.