Técnica de origem chinesa e muito popular no Nordeste, em especial para ilustração de livros e literatura de cordel, a xilogravura passou a ser tema de uma oficina para um público especial na educação em Natal. Isso porque o projeto “Xilo de Corda” chegou para alunos da Educação para Jovens e Adultos da Escola Estadual Passo da Pátria, que fica na zona Leste, com oficinas gratuitas visando propiciar aulas diferentes e uma técnica que pode virar oportunidade de trabalho para estudantes.
O projeto é coordenado pelo arte-designer Douglas Buso e pelo professor de Química da rede estadual, João Batista Costa. As oficinas estão acontecendo desde a semana passada e devem seguir até esta sexta-feira (30). Entre aulas teóricas e práticas, os estudantes estão aprendendo desde a preparação do ambiente de trabalho até o uso adequado das ferramentas e a produção final das gravuras.
“Eles vão aprender todo o processo, desde a escolha da temática, aprender a utilizar as ferramentas, os produtos, as tintas, limpeza do ambiente, participar do processo e até o decalque na matriz, que é de madeira. Algo legal é que será a impressão em tecidos, então além do papel, faremos os desenhos nas camisetas e ecobags”, explica Douglas Buso. O projeto contou com financiamento de um edital do Fundo de Incentivo à Cultura da Prefeitura do Natal na categoria de artes visuais.
Segundo os organizadores, além de promover a valorização de uma arte popular da região Nordeste, a atividade também pode propiciar uma fonte de renda para os participantes. O professor de Química João Batista Costa explica que a ideia é trazer outros materiais também para o cotidiano da xilogravura.
“Trabalhos diferenciados podem fazer com que nossos alunos tenham uma visão ampliada da química, por exemplo. O que vimos para ligar a xilogravura à química? Foi exatamente as tintas, que eram feitas com pigmentos industriais. Como alternativa, procuramos pigmentos naturais, como beterraba, cenoura, açafrão, e isso é matéria da minha disciplina com os alunos”, explica.
Para os estudantes, a atividade tem sido diferente e especial. É o caso de dona Maria do Carmo, 73 anos, que segundo ela, “nunca havia pisado numa escola” durante toda a vida por falta de oportunidades e entrou na EJA há um ano. Ela lembra que sempre precisou trabalhar muito cedo para cuidar dos irmãos e familiares. “Eu estou achando uma oficina maravilhosa. Não conhecia nada sobre tinta, as cores. Nunca tinha visto essas ferramentas, então estou aprendendo agora”, comenta.
Da mesma forma Pedro Belarmino, 60 anos, celebra o fato de estar aprendendo um novo conhecimento. Ele parou de estudar durante a vida em função de problemas de visão e de saúde. “Me criei aqui no Passo da Pátria. Sou um dos moradores mais antigos. Agora meu sonho é terminar os estudos. Estou gostando da oficina de xilogravura. Fiz alguns desenhos, mas não sei muito. Desenhei uma casa, a igreja aqui da comunidade”, cita.
Ainda segundo os organizadores, ao final das atividades, os trabalhos produzidos pelos alunos serão expostos e colocados à venda em uma feirinha de economia criativa, com acesso gratuito à população local. “Essa oficina é importante para ampliar o conhecimento deles. O estudante EJA se julga incapaz, acha que já passou do tempo. Então quando chega uma novidade, eles se redescobrem, identificam coisas do meio deles, do dia-a-dia, e já projetam isso na oficina, já fazem a interação”, avalia a diretora da Escola Estadual Passo da Pátria, Rosalina Silva.
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